segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Quem foi ao programa de índio III?

O projeto “Antropologia e cinema – ciclo II – o índio no cinema”, realizado pelo Núcleo de Estudos Contemporâneos – NECON e pelo curso de Ciências Sociais da UFSM exibiu no dia primeiro de novembro às 14h30min o filme “A Saga de um Guerreiro”.
O local da exibição foi a sala de vídeo da Biblioteca Central da UFSM.

Mais uma vez fui para lá assistir ao filme e ouvir os comentários dos convidados. Já esperava que haveria poucas pessoas. Não me enganei. Quando cheguei à sala de vídeo lá estavam três pessoas: sendo uma o convidado para os comentários: professor João Vicente Lima; outra o Cristiano Hermano, monitor do projeto; e o único espectador até ali, um homem com feições indiáticas. Eles conversavam sobre futebol ( a conquista do São Paulo, os valores que a televisão paga para os clubes,...).
Esperamos mais alguns minutos, e como não chegou mais ninguém além de mim, iniciou-se a exibição do filme.
O filme conta as várias guerras enfrentadas pela tribo norte-america Shawnee, lideradas pelo valente Tecumseh, contra os brancos colonizadores americanos. Desde o final do século XVIII até 1813, os índios têm suas terras tomadas pelo exército liderado por William Henry Harrison (que mais tarde foi presidente dos EUA) e são obrigados a fugir para o oeste.

Passados alguns minutos da exibição, entraram na sala mais dois espectadores. Um tinha entre 40 e 50 anos e o outro entre 25 e 30. Trajavam roupas simples e já gastas. A aparência deles poderia ser considerada por muitos como “estranha”, “esquisita”. Ambos tinham cabelos compridos e atados (“rabo de cavalo”). O mais novo possuía pendurados em seu pescoço vários colares que eu julguei serem artesanato indígena. Tinham uma leve aparência de hippies. Depois de nos cumprimentar, sentaram, para também olharem o filme. Enquanto assistimos, o monitor Cristiano nos ofereceu café, aceito por todos.

Terminado o filme, o professor João Vicente Lima - embora nascido no Amazonas, apresentava um forte sotaque carioca - iniciou seus comentários.
Ele salientou que no século XVIII, as relações entre o branco e o índio nunca foram de uma boa convivência, “de perceber o outro”, mas de usurpação. Ele fez uma comparação com o fundamentalismo atual, citando como exemplos as políticas do presidente dos EUA e do Irã e algumas declarações do Papa.

O professor João também citou exemplos de uma convivência pacífica entre brancos e índios. Nas décadas de 60 e 70 do século XX, algumas universidades dos EUA e do Canadá tiveram alunos indígenas que trouxeram subsídios para a valorização do meio ambiente e com o conhecimento acadêmico adquirido, foram para suas tribos aplicá-los. No Brasil, este exemplo foi seguido pela Universidade do Mato Grosso.

Baseando-se nos Diários de Campo do antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira, o professor afirmou que o contato entre brancos e índios é inevitável, não adianta isolá-los em áreas de preservação. Os índios já utilizam elementos da cultura dos brancos.
Porém, nós usufruímos muito pouco da cultura indígena. A nossa cultura é limitada para explicá-la. Por exemplo, não temos um grande conhecimento sobre a extraordinária engenharia dos povos pré-colombianos, sobre seu misticismo, sobre sua medicina.
O professor João lembrou sua passagem pelo Exército e destacou que durante os exercícios de sobrevivência na selva eram utilizadas técnicas indígenas.

Quando surgiu na conversa o tema da medicina indígena, aquele homem entre 40 e 50 anos, que chegou um pouco atrasado, deu um depoimento interessante:
Ele conheceu de perto a cultura indígena de países como México e Colômbia. Natural de Santana do Livramento, Orestes – esse era seu nome - viajou por toda a América Latina conhecendo os costumes dos índios. Casado, sua esposa estuda na Universidade Autônoma do México. Além disso, ele demonstrou um grande conhecimento sobre filmes de temática indígena.

Quando estava no Acre, aprendeu muito sobre a medicina indígena. Foi lá que descobriu o poder do chá Ayahuasca, feito de cipó Mariri e folha Chacrona. Utilizado pelos índios em cerimônias religiosas, este chá, quando ingerido, permitiria um contato entre os vivos e o mundo espiritual.
Atualmente, Orestes está morando no interior de Itaara em uma “comunidade alternativa”, conforme ele disse. Lá, também moram Fabiano – o rapaz dos colares indígenas – e outras pessoas. Neste local, eles organizaram um pequeno centro espiritual, onde é utilizado o chá Ayahuasca. Eles afirmam que seu uso é saudável para o corpo e para o espírito. Os ingredientes para o chá eles conseguem com tribos indígenas do Acre. No próximo dia 7 de novembro, quarta-feira, está previsto mais um encontro espiritual na comunidade. Todos nós fomos convidados.

É interessante notar que estes rituais, antes exclusivo dos indígenas, difundiu-se entre a população urbana. No Brasil, existem comunidades altamente organizadas que adotaram estas práticas religiosas indígenas. Vale a pena uma visita ao site de uma delas: a UDV – União do Vegetal:

http://www.udv.org.br/portugues/entrada.html

Outra comunidade é o Santo Daime, que reúne diversas seitas independentes. O uso do chá Ayahuasca causa grandes polêmicas. Os adeptos de seu uso enfrentam o preconceito de muitas pessoas, que vêem o chá como um perigoso alucinógeno. O artigo a seguir dá mais detalhes sobre o assunto:

2 comentários:

Anônimo disse...

TO CURIOSA PARA SABER MAIS

Anônimo disse...

TO CURIOSA PARA SABER MAIS

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