quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Mercado das Pulgas: bazar e cultura!
O Macondo às quartas-feiras à noite pode surpreender. A quarta fica bem no meio da semana, parece difícil alguém se animar pra sair, ainda mais pra conferir um bazar cuja entrada é paga. Mas o Mercado das Pulgas, evento idealizado pelo Atílio, um dos donos do estabelecimento, junto com a Cláudia e a Alessandra Giovanella consegue ser um pouco mais que isso. O lugar, já consagrado como uma das casas de festa da cidade, faz a vez de espaço cultural, abrindo suas portas, na noite de ontem, para a exposição fotográfica "Alucinações", de Francieli Rebelatto e para a apresentação do monólogo "Horla", de Leonel Henckes.
O Mercado das Pulgas teve sua 5ª edição na noite de ontem. A 1ª foi em maio, e desde lá acontece mensalmente. Eu nunca tinha ido e achei super legal, apesar de não ter comprado nada para mim. Tinha 4 expositores, o que eu achei pouco. Mas, como me disse o Atílio, quem quer expor contata o bar com antecedência (por causa da disponibilidade de espaço) e deu, não precisa pagar nada, nem a entrada de R$3,00 no dia - e ainda pode sair lucrando se os produtos agradarem. Mas ressalta que devem estar dentro de "uma certa proposta". "A idéia é unir gente que produza ou faça circular mercadoria e que tenha um certo princípio, que não venda qualquer coisa", "que se estabeleça um espaço de troca, de escambo, também, e principalmente de vivência". Nesse sentido, a feira tenta sempre em suas edições agregar um espetáculo teatral, uma mostra fotográfica ou de artes. "Quem é afim de contribuir num espaço de convergência que se aproxime da idéia e da prática do 'Mercado das Pulgas'", diz Atílio, e ressalta que, apesar de não ser um evento inovador, é necessário.
As banquinhas consistiam em:
- uma de bolsas e almofadas, a Alguns Tormentos;
- um sebo de livros e LPs com ótimos exemplares - mas um pouco caros. A loja Disco Voador, recém inaugurada e com o acervo completo e mais um brechó fica na Rua Silva Jardim, 649 (entre a Appel e a Visconde de Pelotas);
- uma de camisetas exclusivas (ou quase) com as estampas podendo ser escolhidas dentre desenhos à mão feitos com caneta nanquim ponta fina - os desenhos também estavam à venda, de autoria de Aloisio Licht;
- uma do brechó "Tempo do Êpa", com um acervo bem bonito, roupas inteiras e limpas e uma diversidade bem boa de acessórios, só o preço um pouquinho salgado em comparação com alguns outros brechós da cidade. O slogan é 'moda para nostálgicos', e as roupas e badulaques são, de fato com cara de antiguinhas. A loja com o acervo completo é na Serafim Valandro, 643, na entrada lateral do Macondo.
Falei com o Ricardo Nicoloso, o dono do sebo, sobre a proposta do "Mercado das Pulgas". Ele disse que "a idéia se resume a mostrar a importância de um serviço que, muitas vezes tem procura e, embora ignorado, possui iniciativa própria". Ele também acredita que a proposta se cumpre, pois ele efetua vendas, troca idéias, se enriquece tanto culturalmente quando financeiramente. "É unir o útil ao agradável", diz ele.
Tempo do Êpa
Camisetas e Desenhos
Bolsas e almofadas
Sebo de livros e LPs
A exposição fotográfica "Alucinações" se encontrava no primeiro andar, com as 30 fotografias espalhadas pelas paredes do bar, acompanhadas por fragmentos do texto do monólogo de Leonel Henckes. Ele e a Francieli Rebelatto moram juntos e, apesar de terem começados seus projetos de forma independente, por meio de devaneios e "filosofadas" descobriram muito em comum entre seus trabalhos e resolveram juntá-los de alguma forma.
A Francieli, aluna de jornalismo da UFSM, escreveu para o folder de divulgação e apresentação de sua exposição que sente-se cercada de alucinações, de fantasias e de anseios que a fazem ir em busca daquilo que os nossos olhos de argila não vêem. Diz também que um dia estará em todos os espaços e tempos: fotograficamente, pois a fotografia e sua subjetividade não é um mero instrumento de sua expressão, mas sua impulsão de vida. As imagens foram construídas durante todo o ano de 2007, quando, de fato encontrou na fotografia seus anseios pessoais e profissionais sendo concretizados. "Mas essa exposição diverge do caráter fotojornalístico", "e é fruto de uma necessidade libertária de usar a foto como suporte para criar minha própria maneira de representar o mundo através da arte", nas palvras de Francieli.
Em seu texto, ela explica um pouco da ligação entre a "Alucinações" e o "Horla": "assim como a idéia do espetáculo Horla, tento nas imagens ver o mágico-fantástico, elucidando para o espectador sentidos muito além dos aparentemente visível naquela imagem. A escolha das fotos, portanto, se deu num sentido de dialogar com o texto Horla, com suas hesitações e incertezas."
Quem quiser conferir mais fotografias e um pouco de poesia, a Francieli tem dois blogs: o Fênix Eternamente e o Câmera na Mão.
Seu fotolog é www.flickr.com.br/photos/franrebelatto.
O monólgo "Horla", marcada para as 11 da noite, começou com pontualidade. No segundo andar, algumas cadeiras e um monte de gente tendo de que sentar no chão ou em engradados de cerveja porque não tinha mais lugar.
Após o espetáculo, conversei com o Leonel, que me explicou que o "Horla" surgiu na cadeira de Técnicas de Interpretação VI, do curso de Artes Cências da UFSM, cuja proposta é um monólogo. Ele me disse, também, que desde 2004 faz parte de um grupo de pesquisa em Teatro e Xamanismo, o "Vagabundos do Infinito", orientado pelo professor Paulo Márcio. Nesse grupo, os participantes têm um sistema de treinamento em que eles "experimentam para ver no que vai dar, basicamente embasado no Castaneda e com alguns exercício de antropologia teatral", trabalhando com qualidades de movimento e qualidades de energia, "e é essa manipulação energética no corpo do ator que vai pra cena".
O "Horla" nasce de três versões de contos de Guy de Maupassant, o Horla 1 e 2 e o Cartas de um Louco. Dentro do trabalho no Xamanismo, trabalha-se com a existência de um "voador", "um serzinho, uma sombra que fica enchendo o saco", conforme Leonel. E ele encontrou no "Horla" o "voador" dos xamãs, e como é o que vive o tempo inteiro, quis levar isso para a cena. Sua atitude enquanto ator e o que ele quer dizer é mostrar para as pessoas que existe essa possibilidade, pois todos já experimentaram isso em sonho - "todo mundo já teve um sonho onde alguém chegava em ti, tu ficava sufocado e não conseguia se mexer", diz o ator.
Sua intenção com o espetáculo é a de realizar uma experiência, fazer, ao final da apresentação, as pessoas sentirem a presença de um "voador". E acrescenta: "eu coloco ele como um trabalho em progresso".
Sexta-feira que vem, quem quiser conferir, o Leonel apresentará espetáculo "Horla" no Santa Cena.
As fotos do espetáculo "Horla" são de Elisa Bonotto, a Zi, do blog My Way, uma grande amiga minha que também adora fotografia.
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2 comentários:
gracias karina!
belo espetáculo
beijo da zica
Bah, valeu pela força Karina, e pela presença no evento também, bacana o blog...
Beijos!!!
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