sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Programa de Índio

Assistir a um bom filme e depois comentá-lo parece ser um bom programa. Essa é a proposta do Núcleo de Estudos Contemporâneos – NECON e do curso de Ciências Sociais da UFSM com a realização do projeto “Antropologia e Cinema – Ciclo II – O índio no cinema”.

No dia 4 de outubro às 14h30min na Sala de Vídeo da Biblioteca Central da UFSM foi a vez da apresentação do filme brasileiro “Caramuru – A Invenção do Brasil”. O reduzido público – 5 pessoas – assistiu à história do português Diogo Álvares Correia, que em 1500, degredado do seu país, acusado de roubo, acaba chegando ao litoral brasileiro, onde conhece as irmãs índias Paraguaçu e Moema. Esta comédia lançada em 2001 pela Globo Filmes e dirigida por Guel Arraes foi uma adaptação para o cinema da minissérie “A Invenção do Brasil”, exibida pela Rede Globo em 2000, quando da polêmica comemoração dos 500 anos da chegada da expedição de Cabral ao Brasil.

Após a exibição do filme, três convidadas iniciaram seus comentários:

A integrante do Mestrado em Integração Latino-Americana da UFSM, Pâmela Marques, leu um artigo escrito por ela sobre o filme, em que destacava entre outras coisas que o filme servia para repensar a criação do Brasil, fato que começou a ser discutido mais amplamente a partir da Semana de Arte Moderna em 1922. Ela apontou a obra “Macunaíma” de Mário de Andrade como sendo uma destas tentativas de pensar sobre a identidade do Brasil.

A mestranda Pâmela observou que no filme é apresentado o “mito de origem” do país com uma visão positiva, sem conflitos, harmoniosa da relação portugueses-índios. Seria a visão do europeu, considerado civilizado e racional, que vê os habitantes da África e da América como povos movidos pelo instinto ou pelas emoções. Pâmela aponta como uma “transgressão” do filme, o fato dele apresentar um tema histórico de uma maneira cômica e não de um modo “sério”, dramático, como geralmente é feito.

A professora de Antropologia da UFSM, Zulmira Borges, também destacou este caráter de comédia do filme, este aspecto “debochado e de grande brincadeira”. Ela salientou a evidência da retratação de estereótipos nacionais: como o comportamento sexual das índias, a imagem de harmonia, festividade, alegria e o “jeitinho brasileiro”, definidos pela professora como “interpretações generalizantes” – temática bastante abordada na obra do antropólogo Roberto da Matta. Conforme a professora Zulmira, o filme passa a idéia de uma tranqüilidade nas relações de convivência entre portugueses e índios, em que os personagens transitam por uma cultura e outra sem dificuldades.

A professora de Letras da UFSM, Andréa Weber, fez uma comparação entre o filme e o livro “Caramuru”, escrito em 1781 pelo frei José de Santa Rita Durão. O livro, enquadrado no gênero épico, enaltece o heroísmo dos portugueses, justifica atrocidades e massacres contra os índios, que devem ser integrados à civilização branca. É apresentada sempre a visão do colonizador.
As três convidadas concordam que os índios são menos representados no cinema do que os negros, talvez por serem hoje uma população reduzida e viverem “escondidos” na floresta. Embora nas vezes em que são representados, normalmente ambos são retratados do ponto de vista do branco.

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