O Núcleo de Estudos Contemporâneos – NECON e o curso de Ciências Sociais da UFSM, dando continuidade ao projeto “Antropologia e cinema – ciclo II – o índio no cinema”, apresentaram o filme “O Guarani”, produzido em 1996 e dirigido por Norma Bengell. O local da exibição foi a Sala de Vídeo da Biblioteca Central da UFSM às
14h30min. Onze pessoas prestigiaram o encontro. Entre elas, a cientista social Daiane Amaral dos Santos e o antropólogo Guilherme Sá, que após a exibição do filme, fizeram comentários.
A diretora Norma Bengell foi acusada de desviar verbas que seriam utilizadas na produção deste filme, liberadas através das Leis Rouanet e do Audiovisual. Mais informações em:
http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL36751-7086,00.html
O filme é uma adaptação da obra “O Guarani”, escrita por José de Alencar em 1857. Mais detalhes sobre o filme podem ser vistos nos seguintes links:
http://www.falhanossa.com/OGuarani.htm
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=2822
A cientista social Daiane Amaral dos Santos disse que o filme apresenta idéias romanceadas. O índio que fica ao lado do português é considerado como “o bom selvagem”, exemplificado pelo índio Peri. A tribo indígena dos Aimorés é representada como sendo do lado do mal, como vingativos.
Outro tema apontado por Daiane é que hoje alguns líderes indígenas incorporaram um discurso formulado por não-índios de protetores da natureza para obterem benefícios. Ela também destaca a relação de superioridade do branco com o índio.
Já o antropólogo Guilherme Sá considerou o filme ruim porque apresenta muitas imprecisões etnográficas e de figurino. Para ele, o filme é melodramático e nada tem de realidade. O índio é apresentado “de alma branca”, que abdica de suas tradições. Para Guilherme isso na realidade não ocorre. Os indígenas absorveram a cultura do branco, mas de uma forma que houve uma mescla com a sua própria cultura. Ocorreu o surgimento de uma cultura híbrida. O antropólogo disse que as identidades são volúveis. Ele citou o exemplo do ensino da língua portuguesa aos indígenas: o índio a interpreta da sua forma, conforme o seu contexto. Todos os povos têm diferenças quanto à percepção de significados. Cada povo tem a sua forma de construção desses códigos.
Guilherme Sá critica as políticas dos governantes para os indígenas. Nos séculos passados, o índio era considerado um entrave ao progresso. Ele deveria ser dizimado ou então aculturado. Atualmente, essa política tem um caráter tutelar. Ele cita o exemplo de projetos dos militares nas décadas de 1960 e 1970, em que os índios eram cooptados pelo Exército para serem os defensores da fronteira nacional. . O ideal seria um relacionamento como se fosse de uma nação (brasileira) para outra (indígena).
Na área do conhecimento, o antropólogo Guilherme Sá disse que “todas as ciências são eurocêntricas”. Pouco sabemos sobre o pensamento indígena. O que temos é sempre “uma leitura ocidental da cultura indígena”. Para ele é preciso pluralizar, universalizar esse conhecimento e não apenas tolerá-lo. Uma das medidas iniciais para isso é o ingresso de indígenas nas universidades. Logo, ele é favorável à política de cotas para ingresso na universidade.
Um comentário:
Quero parabenizar o blog pelo conteúdo e objetivo a que se propõe. Porém gostaria de retificar uma informação postada pois a afirmação feita sobre o discurso dos índios não é de que ele era falso, mas sim, formulado por não índios e incorporados pelos índios. Obrigada.
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